Olha lá aquele menino enrolado na bandeira. Já nasceu
tricolor, vencedor por natureza. É pequeno o detalhe de o seu sangue ser
vermelho. Diante o mar e o céu, é azul o mundo inteiro.
Olha lá aquele menino cantando suada vitória. Esse time é nosso Grêmio, formado por onze
guerreiros. Escrevendo a mais linda história. Olha lá aquele menino, chorando
amarga derrota. Seca as lágrimas, garoto. Da derrota, surge a glória.
Esse é nosso grêmio, eterno campeão do mundo. Que com sete
homens em campo, heróis vestindo um manto. Provou ser ele único. E esta é sua
torcida, que chora, canta e grita.
Para sempre, eterno Grêmio. Para sempre, eterno amor.
Quando escrevi esse poema ao Grêmio, eu não imaginava a
proporção que ele ganharia. Nem o quão longe o time chegaria nessa
Libertadores. Eu alimentava esperança, mas me via pronto para uma eliminação,
fosse quando fosse. Agora, aqui estou eu, triste e inconsolável por ter perdido
o primeiro jogo da grande final. Aliás, estava.
Ante a dor da derrota, acabamos ocultando sentimentos que
são muito maiores do que qualquer resultado. Se me pedissem para descrever o
Grêmio em uma palavra, hoje, eu acabaria descrevendo a mim mesmo e falando
sobre o orgulho a que esse clube me transporta todos os dias.
Ontem, em lágrimas, abraçado à camisa do Imortal, pude
sentir a dor de antigas cicatrizes que ainda marcam meu corpo e, volta e meia,
me transportam a dores que eu tento esquecer.
Ontem, em lágrimas, abraçado à camisa do Imortal, pude
reviver glórias, feitos memoráveis aos quais se atribuem essa tal imortalidade.
Imortalidade essa que me serve de consolo quando lembro que eu, diferentemente
do Grêmio, tenho um tempo a viver. E, um dia, esse tempo irá acabar.
Ontem, em lágrimas, abraçado à camisa do Imortal, pude ver o
quanto as coisas se completam. A vitória e a derrota. O sucesso e o fracasso. A
alegria e a tristeza. Isso é ser gremista. O sonho delirante de não conseguir
ser mais nada, pois quando se é gremista, se é tudo. Os sentimentos se
confundem. E hora você chora, hora você sorri. Vibra incontido e logo está
inconsolável. Ajoelhado num canto de um lugar que talvez os jogadores que te
representam nem saibam que existe.
Às vezes, quem veste a camisa do Grêmio nem sabe o que está
por sobre ela. Nem sabem o peso que carregam nos ombros. Eles vão embora, mas o
Grêmio fica. Nós ficamos. Nossos filhos ficam. Para eles, pode ser uma derrota.
Para nós, são profundas cicatrizes. Marcas as quais o destino não consegue
apagar.
Ontem, em lágrimas, quando abracei a camisa imortal do
Grêmio, revivi mais do que meus 20 anos. Revivi mais de 100 anos. Eu nem era
nascido quando Renato marcou dois gols e deu o mundo ao Grêmio, mas juro por
tudo que há de mais sagrado: pude reviver aquele momento. Por alguns segundos,
eu sai das frias paredes de meu quarto e revivi algo que nem estava vivo para
ver.
Ser gremista é isso. E eu já nem sei mais o que é o Grêmio e
o que sou eu.
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